sábado, 9 de maio de 2020

JOSÉ GOMES BEZERRA


NATURAL DE CURRAIS NOVOS-RN, NASCIDO EM 09 DE MARÇO DE 1911, FILHO DE  NAPOLEÃO BEZERRA DE ARAÚJO E DE  VENERADA BEZERRA DE MELO. FALECEU EM NATAL - RN, NO DIA 26 DE MAIO DE 1982. FONTE - LIVRO TOTORÓ, BERÇO DE CURRAIS NOVOS, DE JOABEL RODRIGUES DE SOUZA 
O escritor José Bezerra Gomes (1911-1982) nasceu no município de Currais Novos, interior do Rio Grande do Norte. Passou sua infância no Seridó e juventude em Natal, formou-se em 1936 na Universidade Federal de Minas Gerais em Ciências Jurídicas e Sociais. Autor de três romances regionais

JOSÉ BEZERRA GOMES


Considerado um dos escritores mais relevantes da produção literária em prosa no Rio Grande do Norte, José Bezerra Gomes, ou “Seu Gomes” como era chamado pelos seus amigos, é um escritor pouco conhecido pelo público. Nasceu em Currais Novos, onde fez o primário no grupo escolar Capitão-mor Galvão. Em Natal, cursou o ginásio no Ateneu Norte-rio-grandense. Bacharelou-se, em 1963, em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais
Em Currais, em 1941, candidatou-se e foi eleito vereador da câmara municipal, instituindo a Diretoria de Documentação e Cultura da Prefeitura de Currais Novos. Foi o primeiro diretor e organizador do referido órgão. Participou, ainda, da elaboração do Estatuto do Centro Esportivo Currais-novense, e foi seu diretor durante dez anos. Essas foram algumas informações biográficas sobre o autor para auxiliar a compreensão da criação literária deste.
José Bezerra Gomes foi um escritor talentoso, mas sua obra foi comprometida pelo avanço da doença mental que o acometeu desde ainda jovem. Mesmo assim, publicou três grandes romances: Os brutos (1938); Por que não se casa doutor? (1944); e A porta e o vento (1974). Seguidor assumido do romance regionalista, José Bezerra retrata em suas obras a seca, o retirante, a memória da sociedade hierarquizada e da injustiça social. No país, o ciclo de romances regionalistas revelou autores como José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos
Em seu livro de estreia Os brutos, José Bezerra Gomes retrata a região do Seridó, a sua cidade natal Currais Novos, que era um polo de riquezas de algodão, o chamado ouro branco do sertão. O romance Os brutos tem 25 capítulos que, embora sejam fragmentados e descontínuos, possibilitam o estabelecimento de uma sequência narrativa para a história, não inviabilizando a compreensão do leito
Sigismundo, narrador-personagem, inicia o enredo em Currais Novos, logo depois descreve a chegada de Seu Tota a essa cidade, um senhor rico que comprava o algodão por um preço baixo, era o único homem que tinha um carro na cidade com motorista, o mulherengo Jesus. Depois introduz a história de personagens como o seu tio Lívio, que vivia com a prostituta Rica. Após isso, Sigismundo mostra a residência dos seus tios Abdias e Maria e do primo Aldair, que era criado com muita rigidez diferente do personagem protagonista. A narrativa deixa perceptível o tempo todo a insatisfação dos tios com a estada de Sigismundo em sua casa.
Em um determinado momento, o narrador traz de volta à história o tio Lívio. Desta vez, o personagem vem para se instalar na casa de Abdias para tratar-se de doença. A partir daí começa a história de amizade entre o tio Lívio e o sobrinho Sigismundo, que acaba quando o garoto se assusta com a doença do tio. Tempos depois, Lívio, com ciúmes de Rica, assassina-a com suspeita de traição, é preso e enlouquece na prisão
Uma nova fase do romance é iniciada quando Sigismundo volta para junto dos pais no Alívio, sítio dos seus pais, onde por influência do morador Cicero Cacheado tem sua primeira experiência sexual. No final do livro, o autor não dá por acabado o enredo e a narrativa “termina” de modo aberto, sem o ponto final dos textos mais lineares e tradicionais.
Em Os brutos, podemos ressaltar a diferença entre o tratamento de Sigismundo e seu primo Aldair. Ao chegar à casa de seus tios Abdias e Maria, vemos o modo como ele é tratado, bem diferente da maneira como os tios tratam o seu primo Aldair, o único filho da sua tia Maria, que o criava diferente de todos os meninos da cidade, sentado em uma cadeira na sala passava o dia inteiro lendo em voz alta. Apanhava por qualquer coisa, bastava não fazer a lição de casa ou chamarem e ele não responder, vivia prisioneiro de sua mãe. Já Sigismundo podia sair e chegar a hora em que quisesse que iria encontrar a porta da casa aberta, podia sair para brincar com os garotos na rua, mas na narrativa podemos ver o porquê que Aldair era tratado diferente de Sigismundo, porque sua tia não queria criar o filho de outra pessoa, para ela seu sobrinho era um intruso que morava na sua casa
Apesar de pouco citado na narrativa, Seu Tota Alves é uma personagem interessante, um senhor ambicioso que, segundo os relatos dos moradores da cidade, ficou rico após uma viagem que fez e um comerciante que viajava junto a ele morreu, e ele trocou a sua mala pela a do comerciante que estava cheia de dinheiro. De Natal foi para Currais Novos e lá começou a comprar algodão às pessoas e a vender pelo preço muito alto, na cidade mal tinha contato com as pessoas, só saía de casa para ir ao Banco
em Natal e quando chegava se enfiava dentro do sobrado onde morava, não era casado, só morava com ele uma mulata chamada Ana Felísmina, que era como se fosse a dona da casa, não gastava com nada, só existia para comprar algodão e guardar o dinheiro.
Sobre o foco narrativo do romance, devemos destacar um aspecto interessantíssimo: apesar de ser escrito predominantemente na primeira pessoa, com a voz de Sigismundo contando a história, alguns capítulos são narrados em terceira pessoa. Isso faz com que o romance possua dois focos narrativos, uma inovação um tanto quanto ousada. Ainda hoje é comum que uma narrativa possua um único foco narrativo. Mas, ao escolher esta maneira para contar sua história, José Bezerra Gomes, conseguiu dinamizar o seu texto, pois, se o narrador em primeira pessoa transmite subjetividade e proximidade com o leitor, o narrador em terceira pessoa possibilita distanciamento e análise dos fatos que acontecem no romance. Assim, o leitor tem sua visão ampliada, pois possui esses dois ângulos, um mais parcial e outro mais imparcial e impessoal, para compreender o texto e chegar a sua conclusa
José Bezerra Gomes, ao colocar o título de sua obra Os brutos, ressalta a “brutalidade” dos seus personagens, podemos citar como exemplo dessa brutalidade a parte em que Lívio mata Rica por ciúmes; também podemos citar seu Tota, um senhor ambicioso, tia Maria com seu egoísmo, a prostituição das mulheres da casa de baixo, a iniciação precoce da vida sexual do garoto Sigismundo. Quanto ao nome Sigismundo (Segue mundo) retrata bem a realidade de um retirante que nunca se fixa em um lugar só e está sempre procurando melhoria de vida em outra cidade. Portanto, ao analisar o título do livro Os brutos, foi possível perceber que o autor não só se refere à brutalidade dos personagens da narrativa, mas a nós mesmos que somos preconceituosos, egoístas, que só pensamos de modo individual e esquecemos de observar a condição do outro.
"
SEU GOMES", como era conhecido José Bezerra Gomes, entre os companheiros
de vida literária, descendia de tradicional  família seridoense, os Bezerra de Araújo, e  viveu a infância no sertão do Seridó (Rio  Grande do Norte). Fez o primário no grupo  escolar capitão-mor Galvão, em Currais Novos,  e o ginasial no Ateneu Norte-rio-grandense, em  Natal. Bacharelou-se em 1936 em  Ciências  Jurídicas e Sociais pela Faculdade de  Direito  da  Universidade Federal de Minas  Gerais.

Pouco se sabe de sua atuação como advogado, mas é certo que dedicou-se por algum tempo às lides jurídicas, tendo mesmo viajado a Portugal em função de motivos ligados à sua profissão.

Voltando a morar em Currais Novos, em 1941, candidatou-se e foi eleito vereador à Câmara Municipal, onde apresentou projeto de lei, depois sancionado pelo prefeito, instituindo a Diretoria de Documentação e Cultura da Prefeitura de Currais Novos. Foi o primeiro diretor e organizador do referido órgão. Participou, ainda, da elaboração do Estatuto do Centro Esportivo Currais-novense, e foi seu diretor durante dez anos.

Romancista, pensou em começar um Ciclo do Algodão, a exemplo do que José Lins do Rêgo fez com o mundo dos engenhos de açúcar.

A doença, no entanto, impossibilitou a realização desse projeto.

No campo do ensaio, publicou três livros, entre os quais O Teatro de João Redondo, extrato, pelo autor, de sua tese O Brinquedo de João Redondo - aprovada pelo primeiro Congresso Brasileiro de Folclore (Rio, 1951). Esta obra é fruto de uma pesquisa realizada pelo próprio José Bezerra Gomes sobre o mamulengueiro Sebastião Severino Bastos, talvez a primeira do gênero no Nordeste brasileiro. Outro aspecto interessante dessa pesquisa é que, quando surgiu a oportunidade de apresentá-la no primeiro Congresso Brasileiro de Folclore, "Seu" Gomes fez questão de que Bastos o acompanhasse até o Rio de Janeiro onde, no recinto do evento, o mamulengueiro se apresentou com grande sucesso.

Os seus poemas foram recolhidos por Luis Carlos Guimarães, seu conterrâneo ilustre em 1974, numa Antologia Poética lançada em 1975.

Pela lei municipal 1.191/90, a Prefeitura de Currais Novos criou a Fundação José Bezerra Gomes como homenagem do povo currais-novense a seu ilustre filho.


(DEÍFILO GURGEL IN 400 NOMES DE NATAL)


(...) o Rio Grande do Norte irá conhecer outro ficcionista de peso, apenas na esteira do Regionalismo de 30. Trata-se do currais-novense José Bezerra Gomes. Sua estreia se dá com Os Brutos, no ano de 1938. Por filiar-se à tendência literária então vigente, o livro acabou lhe proporcionando, além de uma recepção animadora, alguns constrangimentos. Ocorre que esse pequeno romance embora tendo boa parte da sua ação no município de Currais Novos, haveria também de ressaltar um gigantesco problema social, motivado por inúmeros fatores, que deram notoriedade à mais importante ficção produzida no período.

Tornando por vezes, absolutamente impossível a sobrevivência no sertão castigado pela seca, a situação enfocada nessas obras desdobrava-se em duas perspectivas: a falência no sucessão patriarcal (pais e filhos no mais das vezes optando por uma formatura, um anel de doutor ou uma colocação no serviço público para os últimos) e os dramas dos despossuídos, forçados a se retirarem das terras para não morrer de fome. Embora do ponto de vista de denúncia social o romance escrito por José Bezerra Gomes, não revelasse nada de especialmente novo em dimensão e intensidade, tornava-se, pela agilidade narrativa, pelo tom algo naturalista e - sobretudo por aquela possibilidade de tomar modelos vivos como referência, objeto da curiosidade do público leitor potiguar.

O autor provinha de uma tradicional família de fazendeiros e, como a típica personagem de romance do período, acabaria se tornando bacharel de atormentada existência. E o discurso resultante da sua prosa é dominado por certa nostalgia de mando patriarcal, uma indefinição que, como se sabe, enriquecerá algumas das personagens mais elaboradas, psicologicamente falando, do romance de 30.

No caso de Gomes, como no de vários outros, com evidente conotação autobiográfica. Em Os Brutos o seu autor, ao invés do drama individual, privilegia um conjunto de tipos e situações bem característicos de uma cidadezinha do Interior, sua Currais Novos. Além do que, o ambiente propriamente rural, com os seus dramas, está fortemente visível nesta narrativa que tem como núcleo a própria contradição em que se afunda a sociedade semi-feudal: áreas de terras vastíssimas nas mãos de uns poucos proprietários numa relação de absoluta dependência entre os trabalhadores alugados e os coronéis; domínio político à custa, quase sempre, da força, da corrupção dos favores e do emprego público.

Os descendentes mais sensíveis, entre os quais incluí-se o próprio Bezerra Gomes, ficam atônitos ao travarem contato com as coisas do espírito e as atrações mundanas das cidades onde são mandados a estudar, quase sempre, Direito. Esta complexa situação está por inteiro, aliás, em Por que não se casa, doutor?, livro de 44. Embora de natureza urbana, não será esse menos regionalista, uma vez que os elementos que o tipificam, têm como referencial a profunda nostalgia do protagonista/narrador, filho de gente do interior.

Bacharel frustrado e em permanente conflito consigo mesmo sabe-se impotente para, por um lado assumir-se citadino, ocupando à custa de esforço e até de arrivismo, se for o caso, o seu lugar na sociedade. Por outro lado, não se sente capaz de retornar depois de formado, conforme idealizara o pai, para dar segurança à mãe, na velhice da mesma. Tal indefinição leva o protagonista ao terreno da paranóia doença aliás, que perseguiu o autor ao longo de 40 anos e que ressalta no seu último livro da ficção: A Porta e o Vento, publicado pela Fundação José Augusto em 76 o que nos obriga a, inevitavelmente, fazer aproximações da sua ficção com a biografia e a memória.

Os três livros compõe, sem dúvida, um painel que, se não corresponde ao que se chegou a classificar como esboço de um novo ciclo dentro da nossa literatura regionalista, um possível "Ciclo do Algodão", revela com certeza a existência de um ente dominado por certo desengonço psicológico, indeciso, intimidado diante dos desafios que se apresentam e que, em razão da extrema sensibilidade não teria como adequar-se ao contexto do sertão patriarcalista. Aquele que, como no verso já citado, de Bandeira, podia ter sido e que não foi. Menino puro que sucumbe em meio a esse turbilhão de problemas, submergindo e emergindo da loucura, sem saber, eterno inseguro, a que colo recorrer: se a da mãe/nossa senhora, se o da amada/prostituta ou mesmo o que parece mais provável, o da mãe-terra, para o descanso definitivo.

(Tarcísio Gurgel in Informação da Literatura Potiguar - Natal, 2001)
FONTE – BLOG DE CURRAIS NOVOS

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